Origem do Nome Maxakali
Maxakali é o nome da última tribo indigena de Minas Gerais. Foi uma homenagem dos escoteiros a esse povo que um dia foi dono dessa terra. Vamos falar um pouco sobre essa tribo.
Os Maxakali
A origem do termo "maxakali" é desconhecida. Não surgiu do próprio povo, pois nem consegue pronunciá-lo com facilidade. Segundo Nimuendajú, o termo que usavam para designar a si próprios era "Monacó bm" (1958:54). É bem possível que ele estivesse se referindo ao termo para "antepassado" mõnãyxop. O termo usado para auto-designação é tikmũ'ũn que é também um coletivo - "nós".
A língua maxakali foi classificada por Loukotka como "Paleo-American", uma divisão do Brasil Central (1968:68,218). Mason, no entanto, usou o termo Macro-Gê. Este geralmente classificava de modo vago todas as línguas dessa parte do mundo que não haviam sido classificadas anteriormente. Ele incluiu a família de línguas "Mashacali", que, segundo ele, era composta de seis grupos distintos: 1) Capashó, 2) Cumanshó, 3) Macuni, 4) Mashacali, 5) Monoshó, e 6) Panyamé (Mason, 1946:288,295). Por sua vez, Nimuendajú acreditava que a língua e a cultura não estavam relacionadas com Gê e preferiu usar o termo "não classificada" (Métraux e Nimuendajú, 1946:541).
É muito difícil determinar os laços genealógicos por causa do tabu que proíbe falar sobre os mortos. Os pais e avós não se referem a parentes que já morreram e, por isso, as crianças não aprendem os nomes desses. Alcina, ao lhe fazermos uma pergunta sobre algum parente falecido, freqüentemente respondia: "Se minha mãe tivesse me contado o nome dele (ou dela), eu lhe contaria, mas como não contou, eu nunca soube seu nome".
O estudo da organização social dos Maxakali é um que mostra a luta desesperada pela sobrevivência desse povo há mais de um século. Ao estudar esse grupo étnico ameaçado, convém fazer uma breve observação sobre a identidade do povo e a história de sua colonização pelos neobrasileiros e portugueses.
Garimpeiros de ouro e outros minerais entraram no vale superior do Jequitinhonha, nos Estados da Bahia e Minas Gerais, em busca de escravos para trabalhar nas minas. Os diversos grupos tribais que habitavam essa área tão densamente povoada foram submetidos a humilhação, destribalização, massacre e escravidão em não pequena escala. Viajantes e historiadores encontraram inúmeras tribos nessas condições no final do século XVIII e no início do século XIX. Encontraram-se na região do Vale Mucuri e no Vale médio do Jequitinhonha tribos que viviam anteriormente na área rica em minerais do Alto Jequitinhonha. Aqueles quepermaneceram na região alta, embora tendo 'proteção' militar, foram todos extintos (Rubinger, 1963b:238-247). Através de massacres, tuberculose, álcool, sífilis e varíola, os brancos acabaram com os primeiros donos do Estado de Minas Gerais (José, 1958:66).
O povo maxakali fixou-se no Vale médio do Jequitinhonha, no extremo Nordeste do Estado de Minas Gerais, justamente na divisa com a ponta sul do Estado da Bahia. A área geográfica onde vivem é de clima tropical (quente) com um índice pluviométrico de mais de 2 metros ao ano. Ao longo da costa, há pântanos, mangues e palmeiras tropicais (Sauer, 1946:333).
O vale foi povoado por fazendeiros de gado que estabeleceram enormes propriedades. As únicas possibilidades extrativas que poderiam atrair pioneiros eram madeira e peles de animais. As florestas densas e não exploradas serviram de abrigo para os índios e, durante algum tempo, impediram a penetração dos neobrasileiros no seu esconderijo. Segundo Rubinger, as condições anteriormente mencionadas, que permitiram os Maxakali tempo necessário para se adaptarem às novas condições de vida, possibilitaram a sua sobrevivência (1963b: 128-247).
Os Maxakali aprenderam a se retrair do ataque violento dos colonizadores, sempre ávidos para conseguir mais terras. Quanto mais o território diminuía em tamanho, tanto mais fricção havia entre grupos tribais, que eram assim forçados a uma coexistência com seus tradicionais inimigos. Eles sofreram por causa de doenças, fome e combates. Na primeira parte do século, muitos grupos tribais maiores foram extintos quando os neobrasileiros começaram a assaltar com fúria as terras que consideravam "sem dono".
Os Maxakali estimavam-se em cerca de 1.000, divididos em quatro grupos distintos na época em que um certo Joaquim Fagundes, que se auto-denominava amansador dos índios, vendeu muitas terras indígenas. Isso ocorreu por volta de 1921, e nos anos seguintes, os recémchegados derrubaram as florestas a fim de prover pastagens para o gado. Com isso, os Maxakali perderam o seu meio tradicional de subsistência.
Em 1939 Nimuendajú encontrou os Maxakali no local onde ainda se acham hoje (ver Figura 5), e estavam reduzidos a 120-140 indivíduos. Estavam rodeados por fazendeiros e não havia mais para onde fugir. A doença veio com a invasão dos neobrasileiros. Houve uma epidemia de varíola que, por sua vez, foi seguida de outra de sarampo à qual não puderam resistir. Em 1941, o Serviço de Proteção aos Índios (SPI) estabeleceu um posto para prestar assistência à tribo, que estava em perigo iminente de extinção. De acordo com o censo feito pelo posto em 1942, havia somente cinqüenta e nove sobreviventes. Depois de o posto colocar cercas para evitar o saque das roças indígenas por parte do gado, a população começou a crescer lentamente. Em 1943 havia 118 Maxakali, e em 1957, Moretzsohn mencionou um censo em que havia 189 indivíduos (Rubinger, 1963b:241-253).
Nimuendajú acreditava que a ocupação dos dois setores distintos tinha a finalidade de garantir a posse permanente de ambos os setores do território (1958:56). Essa observação é muito válida porque a reserva está sendo constantemente invadida por neobrasileiros, os chamados intrusos, sempre em busca de terras para estabelecerem pequenas fazendas ou roças.
De acordo com Ribeiro (1977:94), dos grupos localizados desde o extremo Sul da Bahia até o Vale do Rio Doce, só os Maxakali possuíam algo semelhante a residências permanentes, praticando uma forma de agricultura muito simples. Os Maxakali preferem estabelecer-se numa área de fácil visibilidade, mas de difícil acesso. Isso os garante maior segurança contra invasores.
A tendência tradicional de compartilhar qualquer tipo de gado tem sido em retalhá-lo para consumo. Quando começou a criar gado, Rondon se separou do grupo maior para que pudesse começar um novo sistema de repartir coisas dentro de um grupo menor.
A morte pode causar uma séria desintegração do grupo. A morte de uma criança que ainda não recebeu o nome é uma perda para a tribo, bem como para a família. Porém a morte violenta de uma pessoa é um acontecimento dramático na vida de toda a comunidade, ocasião em que, antes do pôr do sol, todo o grupo residencial deve abandonar as casas e queimar completamente a casa do morto.